A programação de 2010 para as artes plásticas no Brasil ainda reserva importantes mostras, mas as apostas para repetir o grande sucesso da área no ano passado -- a exposição dedicada a Sophie Calle, organizada pelo Sesc Pompeia e pela Videobrasil -- recaem sobre "Joseph Beuys - A Revolução Somos Nós". No mesmo local e sob a mesma organização que a exposição de Calle, a retrospectiva de Beuys -- a maior já feita no Brasil -- abre ao público esta quinta-feira (16) e segue até 28 de novembro. Depois, a mostra segue para o Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador.
Nome central na arte contemporânea e influência de diversos artistas, Beuys (1921-1986) dizia que todo homem é um artista. Seu profundo humanismo, seu conceito de escultura social e o envolvimento político que o tornou um dos precursores do movimento ecológico fazem dele figura atrativa para qualquer interessado em artes.
“É isso que faz a lebre: encarnar-se fortemente dentro da terra, coisa que o homem só pode realizar radicalmente por meio do seu pensamento -- esfregar, bater, cavar na matéria (terra); por fim penetra (a lebre) nas leis da terra. Nesse trabalho seu pensamento é aguçado e então transformado, tornando-se revolucionário”, disse Beuys em 1965, durante performance em Düsseldorf, na Alemanha.
O lado mais lendário do artista, que idolatrava as lebres e tinha forte elo com a cultura dos tártaros, também perpassa boa parte das 260 peças presentes em "A Revolução Somos Nós" -- vídeos, cartazes, múltiplos e fotografias. Segundo relatos transmitidos pelo próprio Beuys, o apego por tal cultura teve desdobramentos em toda a sua obra, com o uso da gordura, do feltro e de elementos xamânicos. A ligação com os tártaros se conecta ao fato de o artista ter sido amparado e recuperado após acidente de avião que sofreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando atuou como piloto da força aérea alemã
“É preciso conhecer a história de Beuys e esses episódios para compreender melhor sua obra”, disse o curador da exposição em São Paulo, o italiano Antonio D´Avossa, em palestra no último mês de julho no Sesc Pinheiros, em São Paulo. D´Avossa desenha a figura do artista alemão como uma espécie de contraponto a Duchamp, outro nome-chave da contemporaneidade. “Enquanto Duchamp privilegiava o isolamento do artista, Beuys tinha nos encontros com públicos dos mais variados um dos eixos de sua obra, por exemplo.
As relações com o Fluxus [movimento artístico surgido na década de 1960 do qual participaram Yoko Ono e John Cage] também são evidenciadas na mostra no Sesc Pompéia. Quando foi dar aulas em Düsseldorf, Beuys conheceu professores integrantes da corrente, como George Maciunas e Nam June Paik. “Quando vemos registros fotográficos de tais aulas, vemos que pareciam mais encontros. Beuys ficava em meio aos alunos, em conversas em um mesmo nível de interlocução, algo bastante inovador”, disse o curador.
A escolha de Beuys para estrelar a mostra anual do Videobrasil dialoga com o tema da 29ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, arte e política. Com uma obra baseada em ações, encontros e performances -- em "Eu Amo a América e a América me Ama", de 1974, o alemão conviveu com um coiote numa sala durante cinco dias --, o artista se aproxima do viés menos panfletário e mais experimental proposto pela curadoria de Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias para o evento, que abre ao público no próximo dia 25 no parque Ibirapuera.
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"JOSEPH BEUYS - A REVOLUÇÃO SOMOS NÓS"
Quando: de 16/9 a 28/11. De terça a sábado, das 10h às 21h; aos domingos e feriados, das 10h às 20h
Onde: Galpão SESC Pompeia (rua Clélia, 93. Tel.: 0/xx/11 3871-7700)
Quanto: entrada gratuita
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