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sexta-feira, 17 de abril de 2009




Janaína Meira Russeff
Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda

Em fevereiro de 2005, após um ano de aulas teatrais, os alunos das sextas séries do ensino fundamental iniciaram a oficina CurtAção. Esta foi criada com o intuito de apresentar a mídia cinematográfica aos alunos da rede municipal de ensino, e provar que a máxima “Uma câmera na mão e uma idéia na cabeça” era realmente viável.


Esta iniciativa ocorreu a partir da constatação de que a linguagem teatral estava um tanto distante daquele grupo de alunos que nunca havia assistido à uma peça de teatro. Os alunos pouco se interessavam em participar das aulas de artes cênicas, pois tudo aquilo lhes parecia distante. Com o tempo percebi que a televisão poderia ser um ótimo instrumento educativo, uma vez que se faz tão presente em suas vidas. Seria através deste instrumento midiático que eu suscitaria nos alunos o interesse pela arte, pela escrita e pela pesquisa.

O projeto CurtAção teve como objetivo apresentar a estética cinematográfica aos alunos, e ensiná-los no passo a passo da criação de um curta-metragem promovendo o encontro da escola com esta tecnologia que parecia tão distante e inacessível.

Desta maneira, os alunos puderam desenvolver outros níveis de compreensão e sensibilidade, além de transformarem uma obra que lhe era exterior em algo seu, fruto de sua criação.

Essa nova atitude intelectiva/perceptiva estimula não só o desenvolvimento de habilidades artísticas, mas principalmente a auto-estima do aluno que se sente capaz de produzir suas próprias idéias.

O processo

Durante os dois primeiros meses, a turma entrou em contato com os curtas-metragens produzidos pelos alunos da escola de Cinema Estácio de Sá e as palestras de jovens diretores desta mesma nstituição. Tais meses foram destinados para que se apropriassem desta nova linguagem estética a serexplorada. Quando começaram a entender o projeto o entusiasmo foi geral, pois a idéia de se produzir um filme os fascinou.

Num segundo momento, entramos na fase da escolha do tema. Por meio de discussões em sala de aula, chegamos à conclusão de que este seria: “O adolescente e as drogas”. Por se tratar de uma comunidade marcada por grandes dificuldades econômicas e exposta a toda sorte de violência é quase impossível fugir desta temática. Assim, promovi diversos debates entre alunos, professores e pais, acompanhadas de dinâmicas de grupo com oobjetivo de enriquecer o tema escolhido, já um tanto desgastado pelos intensos debates na própria comunidade a que pertencem os participantes do projeto.

Com a temática escolhida e devidamente embasada teórica e politicamente, partimos para a produção de roteiros. Os alunos divididos em duplas passaram quatro meses sob minha orientação, escrevendo e reescrevendo exaustivamente seus roteiros. O trabalho autoral foi particularmente penoso para eles, uma vez que não têm o hábito da leitura e da escrita. Mas, ao mesmo tempo, é possível afirmar que foi muito produtivo também, pois, enquanto expunha seu projeto de criação ao colega de dupla, negociando idéias e expondo dúvidas, cada aluno exerceu a sua possibilidade de argumentação e de trabalho, ao mesmo tempo em que aprendeu a elaborar projetos e a receber críticas.

Após a conclusão dos enredos, foram feitas leituras dramatizadas para que pudéssemos escolher um único roteiro a ser filmado. Por unanimidade “Um mal caminho a seguir” foi o eleito. Iniciamos então, a fase de produção. A turma foi dividida em grupos de trabalho responsáveis pelas seguintes funções: interpretação, figurino, adereço, locação, trilha sonora e continuidade. Minha função foi a de orientar os grupos e direcionar as tarefas a serem desenvolvidas.

No mês de outubro iniciamos nossas filmagens. Cada um dos alunos, com suas funções já estabelecidas trabalhou para que tudo ocorresse conforme o planejado. Depois que encerramos a filmagem e a edição do curta, promovemos uma exibição à toda comunidade. A par da boa receptividade, percebemos reações muito interessantes: pais, alunos, professores e comunidade se demonstraramentusiasmados com a boa nova. Além da exibição do filme, a sensação foi o making off com depoimentos e erros de gravação dos alunos que participaram do projeto. Alunos de outras turmas vinham até mim exigindo que no próximo ano eles também pudessem participar do projeto. Houve um momento em que me vi cercada por pais extremamente emocionados debatendo sobre a mensagem que o filme trazia. Especulava-se até uma exibição do curta na associação de moradores com um debate posterior sobre o uso das drogas. A exibição na escola foi de suma importância, pois os alunos e todos que os assistiram puderam ver concretizado o trabalho desenvolvido ao longo de um ano. Além, é claro, de promover um lugar de reflexão sobre a obra de arte ali exposta, propiciando, desta maneira, um espaço democrático onde cada um pode colocar seu ponto de vista e trocar com o outro.

Bibliografia

Barbosa, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. Editora Perspectiva_____________________(Org) Inquientações e mudanças no ensinoda Arte. Editora Cortez

BOAL,Augusto. 200 exercícios e jogos para o ator e não ator com vontade de dizer algo através do teatro, técnicas latinas americanas de teatro popular. Ed. Civilização Brasileira

KOUDELA, Ingrid Dormien – Jogos Teatrais – Editora Perspectiva ______________________Texto e Jogo - Editora Perspectiva

Lévy, Pierre. As tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na Era da informática. Editora 34

SPOLIN, Viola – Improvisações para o teatro – Editora Perspectiva_____________Jogos Teatrais – O fichário de Viola Spolin – Editora Perspectiva

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