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segunda-feira, 6 de abril de 2009

Gravurando - contando histórias através de gravura


GRAVURANDO – contando histórias através da Gravura


Autora: JANAINA CZOLPINSKIP

Projeto desenvolvido em 2007 – período de março à novembro
Duas oficinas por semana


A idéia de desenvolver um projeto de Gravura, contando a história de determinada comunidade, surgiu para suprir a falta de informações a respeito da identidade de alguns bairros da periferia de Porto Alegre e de sua gente.

O projeto trata da inclusão de grupos de pessoas, em um contexto artístico-cultural da cidade, onde essas mesmas pessoas dificilmente teriam acesso. As oficinas foram planejadas para uma abrangência de faixa etária indeterminada, pois se tratava de oficinas abertas ao público da comunidade.

O planejamento das oficinas é de minha autoria, não havendo participação de outros professores. Esta atividade faz parte do projeto: "Descentralização da Cultura", da prefeitura de Porto Alegre, onde participei de um edital, com outros 400 projetos, e fui selecionada. A duração do projeto foi de 08 (oito) meses, iniciando-se em abril e com término em novembro de 2007, com duas oficinas por semana. Foram 20 (vinte) o número de alunos envolvidos, alguns iniciaram, e no decorrer das oficinas, desistiram, outros ficaram até o final.

O objetivo maior da oficina era contar a história dos moradores do bairro, em forma de xilogravura, para depois com suas impressões, criar um fanzine/cordel e fazer a distribuição do mesmo para outras comunidades. O que ocorreu no final das oficinas, em um evento patrocinado pela prefeitura, onde vieram outras comunidades para o encerramento do ano.

O objetivo do projeto de registrar a identidade de um grupo de pessoas, suas experiências e vivências, criando uma memória particular pessoal, tornando-os inseridos em um determinado contexto, justifica-se também pelo fato de criar uma interdisciplinaridade, onde eram tratadas questões geográficas, históricas, sociológicas e etnográficas deste grupo.

O desenvolvimento das atividades ocorreu de forma gradativa, pois muitos nunca haviam ouvido falar de Gravura, xilogravura, e seus vários suportes e técnicas. Para as primeiras oficinas, utilizei-me da maneira mais lúdica de fazer gravura, com matrizes de isopor e tinta guache, criando monotipias, e fazendo entender a questão do inverso na gravura. Ao mesmo tempo que contextualizava a importância da gravura na história da humanidade, as primeiras impressões feitas pelo homem das cavernas, a necessidade do homem em criar suas marcas, os primeiros artistas que se utilizaram da xilogravura para imprimir livros, até os dias atuais com o off-set.

Para a organização da oficina, pedi aos oficinandos, que trouxessem de suas casas, bandejas de isopor que são vendidas como base de embutidos em supermercado, onde fui atendida, pois também tratamos de questões de reciclagem de materiais (onde jogar fora o isopor?). Ao passar para a matriz de madeira, e às goivas, já havia uma certa intenção de criar suas próprias produções, sempre com a preocupação de criar imagens que correspondiam às suas histórias de vida, dentro do bairro.

Para cada nova aula , criávamos um mini-seminário, onde todos falavam de suas experiências, o que sentiam, quais as dificuldades, como melhorar, e fazíamos uma amostragem do que estava sendo feito, em termos de impressões. As propostas que mais agradaram à todos, foram as visitas às instituições culturais, onde puderam ver de perto, com lupas, as gravuras de Goya, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, a exposição de gravuras de Vera Chaves Barcellos, no Santander Cultural, e gravuras de Leon Ferrari, na 6ª Bienal do Mercosul. Para cada visita, conversávamos após, a respeito do que tinham visto, e aos poucos iam entendendo um pouco mais de gravura feita por grandes artistas, e onde poderiam aperfeiçoar suas próprias impressões.

No decorrer do projeto, pude notar que muitos foram adquirindo gosto pela Arte, e pediam-me livros e textos relacionados à nossas oficinas, no que os supria, com uma pequena biblioteca particular, pois sou artista gravadora também. Os objetivos traçados inicialmente foram atingidos com excelência, não havendo uma forma de avaliação, até porque se tratava de um público espontâneo. Construímos o fanzine/cordel, fizemos uma tiragem de 100 cópias, e mais 200 cópias xerográficas, para a distribuição no dia do encerramento das oficinas.

Esta é uma oficina que pretendo repetir, por ser de fácil assimilação, trazendo questões do cotidiano das pessoas para o universo da Arte, aproximando-os de um contexto sócio-cultural, por vezes inacessível, de forma inclusiva.

Referências bibliográficas:



ARCHER, Michael – Arte Contemporânea. São Paulo: Martins Fontes, 1998.BAUMAN, Zygmunt – Identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

CAMARGO, Iberê – A Gravura. Porto Alegre: Sagra, 1992.

DANTO, Arthur C. – Após o Fim da Arte.São Paulo: EDUSP, 2006.FRY, Roger – Visão e Forma.São Paulo: Cosac & Naif, 2002.

MARTINS, Mirian Celeste – Projetos em Ação no Ensino de Arte – São Paulo:Espaço Pedagógico: Série Seminários, 1997.

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