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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Avaliar em Arte


O que avaliar em Arte? Como avaliar em Arte? O que é importante saber em Arte?


Para debater sobre estas questões, o Instituto Arte na
Escola entrevistou a professora Suzana Ortiz acerca
de seu trabalho de mestrado "Teorizações dos
Docentes sobre a Avaliação em Artes Plásticas" e
convidou a professora Elizabeth Aguiar, mestre em
Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, doutora em Artes pela Universidade de São Paulo
e professora Titular da Universidade do Extremo Sul
Catarinense, para comentar os resultados de sua
pesquisa.
Mestre em Psicologia Educacional da Universidade de
Buenos Aires e professora de Artes Visuais do Colégio
de Aplicação da UFRJ, Suzana publicou sua pesquisa
no final de 2004, que teve como objetivo central
compreender o pensamento do docente de Artes na
avaliação dos alunos da 5ª série do Ensino
Fundamental.


IAE - Quais são os principais conceitos, observados em
sua pesquisa de mestrado, que os professores têm sobre
avaliação em Arte? Como o professor pode trabalhar para
melhorar a percepção do aprendizado do aluno?


S: O conceito de avaliação utilizado pelos professores
tem uma amplitude variável de significados possíveis
e os termos mais utilizados pelos docentes para definir
“avaliar” são: valorizar, compreender, estimular
para crescer. A maioria deles indica como critérios
principais de avaliação nas Artes Plásticas os aspectos
que dependem da própria atuação do aluno. De
acordo com as declarações mais citadas, os professores
indicam como aprende o aluno em Artes Plásticas:
“depende da experiência do aluno” (50%), “não explica
bem como aprende o aluno em Artes Plásticas”
(60%) e “não sabe bem” (10%). A maioria ainda
pensa que a mente do aluno permanece uma caixa
negra, ou seja, o que se passa não é direta e totalmente
observável. Para uma melhoria da percepção
do aprendizado do aluno, o conhecimento das etapas
do desenvolvimento artístico de cada aluno pelo professor
pode não somente facilitar esse processo criativo
do aluno, como também melhorar a compreensão
do processo ao professor. Assim, este professor deverá
usar critérios de avaliação que tenham a ver com o
desenvolvimento de cada aluno, com o processo evolutivo
da linguagem artística de cada um e deve estar
em sintonia com o seu planejamento. Deve-se levar
em conta no processo de avaliação aspectos cognitivos,
afetivos, que envolvam relações sociais, de cooperação,
de participação, de poder de argumentação,
crítica e criação.


B: A pesquisa de Suzana destaca aspectos que, empiricamente,
se pode constatar, como a falta de fundamentação
para a realização da avaliação em geral,
aspecto que se ressalta em Arte. Tal fato evidencia-se
desde o uso de termos ambíguos e até mesmo equivocados
para definir avaliação em Arte. O que significa
efetivamente avaliar? Para que serve a avaliação?
O que fazer com a avaliação? É o mero cumprimento
de uma exigência burocrática? É um instrumento classificatório?
Vale apenas para os alunos? Ou possui
uma função de reorientação da própria prática docente?
Estas são perguntas freqüentemente não respondidas,
ou sequer formuladas, na prática!
Destaco a fala de Suzana apontando que a avaliação
em Arte deve estar em sintonia com o planejamento
do professor. Isto significa que, para avaliar, o professor
precisa saber o que quer que seu aluno aprenda,
o que efetivamente planejou ensinar. A aproximação
dos professores da teoria pedagógica seria, efetivamente,
um caminho para melhorar a percepção do
aprendizado do aluno, qualificando o ensino da Arte
nas escolas ao re-pensar, re-conhecer e re-elaborar o
próprio trabalho docente.


IAE - Na pesquisa, quando perguntados "Como
aprende o aluno em Artes Plásticas?", alguns professores
responderam: “Nem mau aluno nem bom
aluno, não é isso. É uma questão de criatividade, não
sei explicar bem porque um aluno faz algo melhor
que outro, penso que é uma questão da mente de
cada um”. Como a senhora analisa esta questão?


S: A maioria dos professores indica como critérios de
êxito em Artes Plásticas: o aluno participativo, interessado
(60%) e se o trabalho do aluno está dentro da
proposta e vai mais além do que o professor pediu
(50%). A maioria dos professores indica que NÃO existe
o fracasso (70%) e a minoria que SIM (30%). Os critérios
mais citados são: que o aluno faça o trabalho por
fazer, que o aluno não faça nada e não produza e que
seu fracasso seja o fracasso do professor. Apesar destes
dados acima, surgem outros onde a maioria dos
professores (80%) diz que SIM, existe o mau aluno e a
minoria (20%) que NÃO existe o mau aluno. Os professores
consideram como mau aluno: o aluno preguiçoso
e que não quer nada (40%); como bom aluno: o que
trabalha (40%), quem sempre tenta, não desanima, tem
boa vontade e é interessado (30%). Ser capaz em Artes
Plásticas significa dentre os critérios mais citados: o
aluno que percebe mais, que se expressa no trabalho,
que tem habilidades, que executa as tarefas e o aluno
que tem novas formas de criar/criatividade (20%). Desta
forma pretende-se chamar a atenção do professor para
o fato de que os estudantes podem funcionar criativamente
de modos diferentes e que o professor deve
reconhecer “diferentes criatividades” quando estas aparecem
e fazer suas considerações avaliativas deste processo.


B: As respostas dadas pelos professores nesta pesquisa
indicam a fragilidade da sua formação pedagógica.
Como afirma a própria Suzana no trabalho em questão,
e acredito que este seja o caso nas respostas dadas,
constata-se que a existência da teoria nem sempre é
percebida pelos professores e adquire muitas vezes
uma presença silenciosa. Esta ausência ilustra bem
tanto a afirmação de Richard Cary, no primeiro capítulo
de seu livro Critical Art Pedagogy- Foundations for postmodern
Art Education (1998), ao dizer que os arte-educadores
são avessos à teoria e este distanciamento
contribui para o afastamento destes professores dos
postos importantes nas escolas e nos sistemas de ensino,
quanto a de Paulo Freire na sua conhecida fala de
que toda a prática pedagógica está assentada num fundamento
teórico, num conjunto de concepções, ainda
que o professor possa desconhecer quais são estas
concepções! A convicção de que o aprendizado em Arte
também ocorre pela interação do sujeito aprendente
com o objeto de conhecimento não é nova nem pouco
difundida. O objeto, neste caso, é um fenômeno pertencente
ao mundo da Arte: uma linguagem artística,
um processo de criação, de apreciação e compreensão
de produções próprias e de outros sujeitos em diferentes
tempos e culturas.


IAE - A pesquisa indica que a maior parte dos professores
de Arte compara o trabalho do aluno com critérios
estéticos, sendo que a maioria não o compara com critérios
estéticos de “boa ou má arte”. O que é boa e má
Arte?


S: Os resultados trazem evidências de que a maioria
dos professores de Artes Plásticas (60%) SIM, compara
o trabalho do aluno com critérios estéticos e que a
minoria (40%) NÃO compara o trabalho com critérios
estéticos, sendo que a maioria (80%) NÃO o compara
com critérios estéticos de “boa ou má arte”.
Considerando-se que a experiência educativa em Arte
tem uma carga altamente subjetiva, deve-se buscar
maior compreensão sobre estas questões através de
certos marcos teóricos importantes, tais como Duarte Jr
(1995), que esclarece que no processo de avaliação não
deva haver uma comparação dos trabalhos dos alunos
com supostos parâmetros estéticos, no sentido de
“boa” ou “má” Arte. Para a criança a Arte não tem um
valor estético. Seu trabalho busca a comunicação (consigo
mesma) e a organização de seu mundo. Porém não
significa afirmar que os padrões estéticos dos adultos
(“a beleza é algo que se modifica através da cultura”)
não tenham sentido para as crianças, não quer dizer
que seja irrelevante auxiliá-las a desenvolver uma “consciência
estética”, que significa uma capacidade de eleição
e de crítica para selecionar e recrear valores e sentidos,
segundo situação existencial do aluno.


B: Parece que o critério estético que 60% dos professores
afirma utilizar para comparar o trabalho dos alunos
é aquele que eles próprios possuem, possivelmente
constituídos pelo senso-comum, portanto sem reflexão
ou fundamento, além da sua própria experiência! Afirma
Brent Wilson em seu paradigmático texto “Mudando
conceitos da criação artística: 500 anos de arte-educação
para crianças”, que “embora a arte-educação seja
apenas uma pequena parte do mundo da Arte e, aos
olhos de muitos, uma parte insignificante, ela é, apesar
disso, formada e modelada pelo mundo da Arte e reflete
as suas crenças”. Portanto, o fato de 80% dos professores
questionados NÃO comparar o trabalho de seus alunos
com critérios estéticos de “boa ou má arte” fortalece
a constatação de que depois da ruptura com os
cânones, o modelo, as prescrições, tornou-se efetivamente
complexo estabelecer o que é boa ou má Arte e,
até mesmo, o que é Arte! Considerar boa ou má Arte
depende da concepção de Arte que temos e que, na
situação escolar, nem sempre, ou raras vezes, coincide
com a do nosso aluno. Estamos absolutamente afetos
ao Sistema das Artes, ao funcionamento do mercado da
Arte. Assim, ela é boa, quando “funciona” como arte,
acionando a sensibilidade e a evocação no sujeito apreciador.
Para os nossos alunos “funcionam como Arte”
diferentes produções, linguagens, suportes e diferentes
instituições do mundo da Arte. Portanto o reconhecimento
da pluralidade de critérios estéticos é uma condição
para a avaliar e para ser um bom professor de Arte!

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