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terça-feira, 3 de julho de 2012

Para que arte? - texto de Bruno Fischer Dimarch

 

Para que arte?


A volta da disciplina Arte no ensino médio reascende uma antiga questão
Bruno Fischer Dimarch


Com a volta da disciplina Arteno terceiro ano ensino médio na rede pública estadual paulista a questão sobre o porquê ensiná-la aos jovens volta à tona. Sabemos das demandas que sociedade mais delega aos garotos e garotas quando eles estão nas últimas etapas da educação básica. Em primeiro lugar, almeja-se a continuidade dos estudos na forma do ingresso em uma instituição de ensino superior, o que significa, para o aluno, uma boa qualificação no ENEM e/ou nos vestibulares. Em segundo lugar, a inserção no mercado de trabalho. Neste caso, espera-se que os alunos desenvolvam competências e habilidades que permitam sua inserção e atuação.
Que papel exerce a arte frente a tais demandas? Antes de arriscar uma resposta, devemos relembrar um pouco a história do ensino de Arte no Brasil. Na escola, havia uma série de atividades como desenho, música e trabalhos manuais. A primeira era considerada um tanto mais relevante que as outras por estar a serviço da escrita e da cultura letrada, necessária na escola, porém entendida como atividade.
Posteriormente temos a arte figurando como uma função atividade, a Educação Artística. Uma quase disciplina, que fazia parte do horário regular de aulas, mas que não “reprovava” (como diriam aqueles que viveram este período), oficializada em 1971 com a Lei de Diretrizes e Bases nº 5692. Já com a LDB nº 9394, de 1996, e com o surgimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a arte ganha o mesmo status das demais disciplina e, mais significativamente, como área de conhecimento.
A partir desta rápida digressão, voltemos à questão da disciplina Arte no ensino médio. Parece que o entendimento referente à arte na escola ainda carrega o pensamento dela como algo que está relacionado com o adorno, o trabalho manual ou mesmo uma atividade, mas não como conhecimento. Seria necessário haver questões específicas de arte nos exames de acesso às universidades para que ela fosse validade como conhecimento? Ou mesmo que ela desenvolvesse competências e habilidades imprescindíveis para o ingresso no mundo do trabalho?
Há arte no escopo das duas principais demandas sociais exigidas do aluno, tanto no que se refere aos exames quanto ao trabalho. Por um lado, da história da arte à leitura de imagem, encontramo-la nas páginas dos principais vestibulares e, por outro, o mercado de trabalho tende a exigir cada vez mais criatividade e dinamismo.
Está, portanto, justificado o papel da disciplina Arte no ensino médio, não? Considerando-se apenas as principais pressões direcionadas aos alunos, podemos dizer que sim. Todavia, a arte avança muito além dessas demandas. Caso deixe de ser algo valioso para a sociedade, isto é, para o que a sociedade espera dos jovens, a arte não poderá simplesmente ser eliminada do currículo.
O espaço da arte na escola resiste às demandas tecnocratas e meramente utilitaristas da sociedade atual. As formas, cores, luzes, gestos, palavras, sons e os diversos elementos das linguagens artísticas abrem a mente para uma relação sensível com o mundo. A Arte é o espaço do sensível no currículo.
Ao vivenciar a arte com os alunos permite-se que sua percepção da realidade seja ampliada. O pensamento é levado ao abstrato, ao absurdo, ao futuro. Os artistas inventam o futuro, antecipam-no e sentam-se na cadeira ao fundo do teatro da vida dizendo “eu te disse, não disse?”. Por meio das sensações, de uma relação estética com o mundo que nos rodeia, abrimo-nos à crítica e às novas formas de inovação, revolução e resistência.
A arte é tão antiga quanto a história dos homens e permanecerá na cultura em suas mais diferentes formas. A escola, enquanto vínculo geracionalna sociedade e enquanto espaço para acesso à tradição e evolução cultural, é o lugar onde a arte não pode ficar de fora.

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